sábado, abril 12, 2008

Concertos@Optimus: Jorge Palma em Évora

"Voo a média altitude em noite serena.

Foi uma plateia bem recheada aquela que recebeu de braços abertos o sempre imprevisível Jorge Palma na Arena d’Évora. Com o sucesso do multi-platinado Voo Nocturno bem presente, o músico não se fez rogado e apresentou um alinhamento bem marcado por canções do passado. Revezando-se entre o piano e a guitarra acústica, Palma apresentou-se corajosamente sozinho, acompanhado apenas pelo filho Vicente Palma em alguns temas.



Depois de uma entrada discreta em palco, o músico agradeceu as boas-vindas do público com os versos emblemáticos do clássico «Hit the Road Jack». Parco em palavras, iniciou o concerto com «O Meu Amor Existe», servido em guitarra furiosamente arranhada. Alguém no público ri no final da canção e com uma jocosidade desarmante, Palma responde: «É tão bom ser palhaço. Quando se ganha bem então…». Irrompe entre gargalhada geral o «Tempo dos Assassinos».




Palma senta-se então ao piano e, em jeito clássico, dilui-se por entre os versos encantatórios de «Voo Nocturno» e deambulações instrumentais. O velhinho «Frágil» tem coro assegurado pelo público e a mestria ao piano rende-lhe os primeiros aplausos entusiastas da noite. Entre imperceptibilidades e improvisos, a voz de Palma vai-se soltando e alia-se à força das teclas para o emblemático e velhinho «Só».

A pausa para a água descamba em risada quando o músico pede «Agora a seguir queria uma cerveja, se faz favor». Bem concentrado e com melodia solene em pano de fundo serve o fantástico «Disse Fêmea», um dos momentos altos da actuação. «Dá-me Lume» desponta – o público colabora na hora – e mesmo com algumas nuances menos felizes, soa belíssimo como sempre.

Quando surgem «Valsa dum Homem Carente» e «O Centro Comercial Fechou» (primeiro regresso a Voo Nocturno) a audiência já está completamente rendida. É então que Palma apresenta Vicente e troca novamente para a guitarra, entregando as teclas ao filho. Ainda em modo Voo Nocturno apresenta «Abrir o Sinal», dá um novo e prolongado golo na cerveja e de rajada toca «Jeremias, o Fora da Lei», «Na Terra dos Sonhos» e «Maçã de Junho», resgatados ao passado para serem apresentados a duas guitarras e em duelo vocal.




Novamente sozinho, Palma exclama: «É, vou tocar esta», ri-se e ataca «Encosta-te a Mim». Um ligeiro percalço de dicção e o tema que anda nas bocas de meio mundo faz despontar um coro afinado que sobe de tom para acompanhar o piano. Vicente regressa ao palco para «A Gente Vai Continuar» e a despedida faz-se a dois e com o público a aplaudir em pé. Em encore, a versão dramática agridoce de «Canção de Lisboa», com final acelerado, e «Vermelho Redundante», tema co-escrito por Carlos Tê para Voo Nocturno encerram o concerto em beleza.

Jorge Palma provou, mais uma vez, que consegue transformar as suas fraquezas em forças. A voz sedutora, o piano tocado primorosamente e a atitude descontraída conquistam qualquer um. Voo Nocturno pode ter acordado o público novamente para um músico ímpar, mas em abono da verdade são os temas do passado que o asseguram, aos olhos de todos, como um dos nomes mais importantes de sempre da música nacional."

Alinhamento:

«O Meu Amor Existe»
«Tempo dos Assassinos»
«Voo Nocturno»
«Frágil»
«Só»
«Disse Fêmea»
«Dá-me Lume»
«Valsa dum Homem Carente»
«O Centro Comercial Fechou»
«Abrir o Sinal»
«Jeremias, o Fora da Lei»
«Na Terra dos Sonhos»
«Maçã de Junho»
«Encosta-te a Mim»
«A Gente Vai Continuar»
____

«Canção de Lisboa»
«Vermelho Redundante»


Texto: Mário Rui Vieira
Fotos: Jorge Padeiro/agenciazero.net

Fonte: blitz

2 comentários:

Tamia disse...

Depois de ler isto fiquei com a impressão de que não foi este o concerto onde estive, no mesmo sítio à mesma hora.
Desde a entrada que só foi discreta porque ele não tinha luz para não se ver logo o estado em que vinha, o Jorge não foi jocoso, respondeu à letra a alguém que lhe chamou de palhaço, sentou-se finalmente ao piano já que parecia que não se aguentava em pé, bem concentrado foi coisa que nunca esteve, nem sabia bem o que escolher para cantar, nuances no Dá-me Lume e precalços na dicção são uma maneira de pôr as coisas, enganos é outra!
Para mim o momento alto foi na "Maçã de Junho", foi a melhor música cantada naquela noite.
O público tudo perdoa ao Jorge, de tudo gosta e tudo admite.
Já aqui manifestei o meu desagrado ao estado em que ele se apresenta, mas não é por não gostar, é por gostar e muito. Tenho medo que não haja quem o queira contratar e quem não o queira ver e ouvir por não gostar da maneira "alterada" como ele se apresenta.
Gosto mesmo muito de Jorge Palma. É o meu cantor favorito de todos os tempos, a minha pergunta é: quanto mais tempo a sua saúde aguentará?

Anónimo disse...

Boas fotos...