sábado, maio 27, 2006

Ainda a Feira do Livro do Porto...


"Jorge Palma, Sérgio Godinho e Nuno Galopim no primeiro debate da Feira do Livro sobre a música e a palavra


Os debates na Feira do Livro do Porto começaram sexta-feira sob o desígnio «Escritores de Canções». Jorge Palma, Sérgio Godinho e Nuno Galopim foram os protagonistas da conversa moderada pelo radialista Álvaro Costa.


Mesmo com 40 minutos de atraso, o espaço do Café-Literário na Feira do Livro do Porto encheu para ouvir falar sobre música. Os intervenientes da noite de sexta-feira foram Jorge Palma, Sérgio Godinho, Nuno Galopim e Álvaro Costa que teve a missão de moderar a conversa. «Escritores de Canções» foi o tema proposto e, a partir do qual, se discorreu sobre a música que se faz actualmente, sobre o boom de música portuguesa registada nos anos 80, sobre o papel que hoje têm as rádios, sobre uma nova geração que, ao nível dos cantautores, parece ser ainda muito incipiente. O mesmo não se poderá dizer do projecto carreira de Jorge Palme e de Sérgio Godinho, que fazem parte de uma geração em que o peso da palavra e da música ainda hoje marca a diferença no panorama da produção nacional. São escritores de canções cuja escrita é evidentemente mais apurada e pessoal desviando-se do vazio do “I love you and she love’s me”. Duas artes em que nenhuma prescinde da outra e que são trabalhadas de forma diferente. Jorge Palma tem uma origem instrumental de piano. Confessou que sempre se sentiu “músico” e apesar de não se considerar um poeta ou escritor, a certa altura sentiu “a necessidade de escrever canções”. Nesse momento, sofreu influências de Zeca Afonso e de Ary dos Santos, mas também de Sérgio Godinho sobre quem diz ser “uma referência”. Aliás, “«A Terra dos Sonhos» foi escrita a tentar imitar-te”, disse o ‘infant terrible’ a dada altura, acrescentando que todos os dias quando está a compor “nada vem do nada, pois há sempre qualquer coisa de que se gosta, como um livro ou um quadro, que nos marca e as influências que tenho dentro de mim acabam-se por se reflectir no que faço”. E, no seguimento da ideia do cautautor, Álvaro Costa indaga se este resiste às modas?, depois de Nuno Galopim ter aflorado os idos anos 80, onde a ideia de fazer brotar uma cultura pop/rock se associou ao desafio de compor em português. Sérgio Godinho retira dos ombros o peso ou a obrigação de “representar um todo, porque as pessoas não devem esperar de mim sempre o mesmo e não tenho necessidade de preencher as expectativas que elas possam ter, porque nós não somos os salvadores da pátria por falarmos da vida de uma forma múltipla”. Isto a propósito de uma outra questão que entroncou na importância dos cantautores na formação dos mais novos que não lendo livros, podem ter na música uma alternativa. E, aqui entram as rádios, que para Nuno Galopim “deixaram de exercer o seu espaço primordial de dar a conhecer tudo o que se faz. Aos mais novos apenas lhes é dado a conhecer o fácil e, por isso, não é um trabalho responsável de educação social”, acrescentando que “apesar de termos estado 10 anos embalados por uma espécie de sono de entretenimento, parece que estamos a despertar para o melhor da canção”.



Texto de Goreti Teixeira n´O Primeiro de Janeiro (www.oprimeirodejaneiro.pt)

Tiago Branco

1 comentário:

cristina disse...

Muito agradecida! =)