sábado, outubro 07, 2006

Era para ser um tributo a Scott Walker


Numa noite culturalmente activa na cidade do Porto foram poucos os que assistiram ao tributo prestado pela Casa da Música a Scott Walker. Apesar da presença de alguns músicos estrangeiros, a noite foi salva pelas prestações de J.P. Simões, com os Quinteto Tati (mesmo que em trio), e o dueto de Jorge Palma com Xana (Rádio Macau).
Ao longo de duas horas, o público disperso pela sala Suggia permaneceu sereno ao entra-e-sai de músicos que, de três em três temas, faziam crescer a vontade de chegar a casa e ouvir o verdadeiro Scott Walker. Felizmente o músico norte-americano - nascido Noel Scott Engel - não estava presente já que foram poucos os momentos a guardar. Destaquemos esses, então.
Antes do intervalo, o também enigmático J.P. Simões entrou em cena com o pianista e guitarrista dos Quinteto Tati, e destacou-se pela sobriedade e sentido que deu a «Rosemary» e «Joanna». Talvez o registo de voz mais próximo do original.
Meia hora depois, Jorge Palma subiu ao palco e, sozinho ao piano, interpretou «Two Ragged Soldiers». Bem ao seu jeito, e com as gafes a que já nos habituou. Entrou depois Xana, a vocalista dos Rádio Macau, e a noite começou a ganhar sentido. Em dueto interpretaram «Só», de Jorge Palma, e o público disse finalmente «presente». O silêncio imperou na sala e quando se pensava que já tinha valido a pena ter ido à Casa da Música, ouviram-se os primeiros acordes de «Sempre Mais», dos Rádio Macau, na guitarra acústica de Xana. Dois temas não previstos. Afinal não pertencem ao reportório de Scott Walker, mas agradecemos, mesmo que de última hora.
Com cumplicidade, Palma prometeu a Xana que «para a próxima» não se enganaria, enquanto ambos concordaram na necessidade de «mais momentos como estes». Venham eles!
Sem protocolos, e com o à-vontade de mais de 30 anos de carreira, Palma questionava-se: «Gajo pesado este Scott Walker! Ele sabe que nós estamos aqui a fazer isto para ele… aliás, para nós?.» E brinca: «Scotch Walker e o Flash Gordon… que dupla!», protagonizando provavelmente o primeiro momento descontraído da noite.
Porque desde que ouviu Jacques Brel, Scott Walker o incluiu nos seus discos, o músico francês também foi evocado neste tributo. Para terminar, Jorge Palma e Xana escolheram «Amesterdam», num inglês «inspirado no Bowie» e em francês, respectivamente.
Neste tributo também participaram Aranos, Saaly Doherty, Corsage (em substituição dos Plaza) e Rosie McDowall.
Texto de Joana Brandão in Diário Digital

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